Por Giselle Beiguelman*
Tec é um artista múltiplo que transita entre os vocabulários do desenho e da pintura, sem perder de vista o léxico do grafite. Arte de infiltração por excelência, o grafite adentra os muros e as empenas, proclamando uma ocupação efêmera que redefine as ruas e a arquitetura. Por vezes, essas infiltrações são tão profundas, que se torna impraticável fazer qualquer imagem mental sobre um lugar, sem a referência de sua marcação provisória. É possível figurar o Minhocão sem o traço de Tec se impondo sobre a cidade? E quem consegue pensar nas abruptas subidas e descidas de Perdizes sem lembrar dos seus desenhos no asfalto?
A aderência da arte de Tec ao plano é de tal forma soberana, que se torna inviável desvincular sua arte dos pontos e suportes em que intervém.
Um dos segredos dessa aderência é o seu senso de escala: as formas pelas quais seus trabalhos ganham dimensão espacial e temporal. Ele opera como poucos na interseção entre o provisório e a memória. Entre o apagamento e o registro. Confunde-nos, o tempo todo, perturbando as referências sobre o que entendemos de como era o território, antes e depois de sua passagem.
Seja na pintura ou nas ruas, Tec maneja a confluência do rastro e do rasgo. Ele toma partido do cálculo e do acaso, numa superposição de cores e mídias que depende mais do movimento do corpo e de seu deslocamento, para ser percebido, do que da concentração de um espectador “olhante” passivo.
Alinhado com o sentido mais contemporâneo da paisagem, suas obras performam o espaço na sua complexidade cultural e social, e não apenas como horizonte do visível. Obra que transborda os limites da moldura e a dobra das esquinas, o conjunto criativo de Tec enlaça quem atravessa seus caminhos, transformando-nos em cúmplices de suas táticas e estéticas infiltradas.
Giselle Beiguelman é artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.